quinta-feira, 2 de junho de 2011

O amor anda tão fora de moda!

Há momentos em tudo parece fora do lugar.
Exatamente nesses momentos que paro e penso: como sabermos o que é certo e o que é errado?
Como saber se meu lugar é no chão se nunca me deixaram voar?
A normalidade!
O padrão criado pela cultura da nossa sociedade é o ponto norteador.
Ele nos diz que o certo é a felicidade, e o riso estampado no rosto.
Mas, e se a normalidade for inadequada para alguns?
Mas, e se o normal fosse a depressão e o tédio? 
Imaginei...
 ...um lugar onde pessoas sorrindo fosse considerado uma patologia, uma anormalidade tratada e combatida com grandes doses de remédios, álcool e filmes melosos.
Terapeutas ensinariam as pessoas a chorarem e isolarem-se do mundo. Lenços seriam super valorizados e os palhaços seriam uma classe desempregada e em extinção. Considerados anormais dentro de seu esforço pela felicidade. 
Tão anormal!
E se o céu azul e límpido fosse considerado estranho?
Os dias nublados seriam agraciados por rostos cinzas através de janelas embaçadas  e úmidas.
Os pássaros não mais cantariam.
O som quase que seria extinto. Apenas se ouviria ao fundo um lamento, um murmúrio acompanhando o ritmo lento e intenso da infelicidade vigente.
As cores desbotariam gradativamente. A grama sempre seria amarelada e seca pra combinar com as flores desbotadas e fúnebres.
Porem, alguns poucos não se encaixariam dentro desse cenário.
Eles, olhariam para o céu cinza e imaginariam como seria vê-lo sem aquela camada de nuvens; como seria sentir o calor do sol a queimar sua pele e espantar toda aquela ausência de cor, de vida.
Começariam a se questionar. A viver.
Ensinariam os pássaros a cantarem, assoviando pelas ruas, sendo acompanhados por olhares de reprovação enquanto pintavam as flores com o batom escondido na bolsa.
Anormais! Aprendendo a arreganhar os dentes para o mundo e a sorrir para a vida.
Errados aos olhos dos outros.
Mas, quem foi que garantiu aos outros o direito de julgamento?
Quem seria realmente, o “dono da verdade”?
A verdade é relativa, não é única e imutável.
É inconstante.
É plural.
A minha verdade é particular, é de dentro para fora e nada tem relação com o ponto de vista dos que estão ao meu redor.
Eu gosto do céu cinza e dias nublados. Isso não quer dizer que o céu azul e um sol gigantescamente brilhante seja anormal. É apenas a verdade de outra pessoa e não a minha.
Tantas coisas acontecem ao nosso redor. O tempo todo, todo o tempo.
Nem sempre o mundo em que se vive é realmente o seu mundo.
Não se encaixar no mundo não é algo ruim. O mundo é tão grande e o universo é inimaginavelmente maior!
Existe espaço pra tanta diversidade quanto podemos imaginar ou pintar com batom.

Mais uma vez, imaginei...

E se o normal fosse todos vivermos em paz?
E se em nosso mundo, todos, independente de cor, raça, escolha sexual, limitações ou mesmo idade tivessem acesso a todos os ambientes culturais, educacionais e afins em perfeita harmonia?
Neste mesmo mundo, as crianças teriam a infância preservada e seus pais sempre estariam presentes na busca de seu bem-estar.
O dinheiro seria apenas um instrumento para se alcançar bens materiais. Seria dispensável, e não a meta de vida de tantos.
Os países teriam líderes comprometidos com o desenvolvimento responsável de seu país e seu povo. Patriarcas e matriarcas no sentido literal da palavra.
A natureza seria encarada como nossa maior riqueza. Viveríamos em plena harmonia.
Deus não seria culpado por nossos erros e muito menos pretexto para estúpidas lutas travadas entre iguais. Ele viveria entre nós. Caminharia descalço entre as crianças em uma escola; ouviríamos sua voz no barulho do mar; veríamos seu sorriso em cada arco-íris. 
Nós o encontraríamos em templos, igrejas e mesquitas. Ele seria negro, seria índio, seria branco, teria os olhos puxados, seria Alá, seria Javé, Jeová, Buda, seria Shiva. Teria um pedaço de cada um de nós, pois ele seria de um e de todos, ao mesmo tempo.
Os noticiários seriam aguardados com ansiedade. Famílias se reuniriam para sorrir e louvar as noticias tão abençoadas que recebiam do mundo. Uma janela.
As pessoas não morreriam jovens. Os idosos seriam vistos como símbolos se sabedoria e grandeza.
A infância seria intacta. Um direito previsto por uma lei atuante e real.
Os carinhos seriam puros.
Os pais, eternos. 
Os amigos, próximos. 
E o amor intenso e pra sempre.
Amar seria o verbo.
As almas gêmeas separadas durante o nascimento se encontrariam depois de anos de boas experiências, para à partir deste momento compartilharem uma vida a dois, com direito à várias eternidades.
As lágrimas teriam virado pó.
E eu, que sempre quis voar, ignoraria a gravidade, emprestaria o céu azul, pintaria flores cinzas, esperaria pela chuva e faria lágrimas com água em meu rosto vivo demais. Lágrimas de felicidade.
Não me encaixaria nesse mundo. Não por não apreciá-lo, mas porque hoje não me encaixo neste em que vivo.
Não entendo os preconceitos.
Não tenho forças para perdoar o absurdo que pais cometem com filhos.
Não vejo grandeza na maioria dos líderes do mundo.
Não aceito as verdades dos outros como minha.
Não me encaixo nos padrões.
Não ouço as mesmas músicas e nem mesmo assisto aos mesmos programas.
Não rio das piadas toscas e acompanho apenas a  moda que se adapta a mim, e não o inverso.
Prefiro livros a baladas lotadas de pessoas suadas e música ruim.

 Ainda pensando....

Quem é dita as regras?
Onde está o dono da verdade?

..respondi!
A minha verdade faço eu. O meu mundo faço eu. A minha vida vivo eu.

À noite, oro em português pra um Deus que me escuta em dialetos antigos. 
Ele tem a pele negra, vários braços adornados por jóias e mãos perfuradas pela nossa falta de amor.
Olhando meus pensamentos ele ri e ironiza:
  - Mas quem iria querer um mundo onde o amor fosse o combustível, minha filha? O amor anda tão fora de moda!
 - Tão anormal! Digo eu antes de cair no sono.

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