segunda-feira, 7 de maio de 2012

405 Km. Para um pouquinho, escreve um pouquinho, 405 Km....


E assim, de repente, a lua me parece tão próxima.
Mesmo que por mera ilusão de ótica, ela agora me parece mais próxima que qualquer outra coisa.
Janelas, árvores em movimento, carros e luzes indo e vindo, um café quente, e uma brisa fria constante que insiste em tornar meus pés azulados cada vez mais frios.
Olhando através dela nesse instante, com a música no volume máximo em meus ouvidos percebo que aqui, no meio do nada, em um automóvel em movimento, no silêncio de uma noite fria de outono, consigo, de maneira clara, enxergar as peças se encaixando.
O futuro me faz uma prévia. Um trailer de um filme a muito aguardado.
Talvez seja outra ilusão de ótica, talvez sejam os efeitos de um fim de semana maravilhoso, talvez seja apenas fé, mais forte e maior do que nunca.
"Podes reinar...."
E nessa estrada sigo, e nesse momento penso em como é dificil escrever com um computador que insiste em "ziquezaguear" em meu colo.
Seria tão mais fácil no conforto da minha casa, seria tão mais fácil usando meu prático e conhecido word 2007. But...as coisas, na grande maioria das vezes, não acontecem da maneira mais fácil.
A vida acontece o tempo todo, quase sempre acalerada, como um carro em movimento. Nossa capacidade de moldá-la de acordo com nossos desejos, pode ser medida pela habilidade de nos adaptarmos aos seus altos e baixos, aos trancos e buracos, aos erros de digitação a cada curva brusca. Sempre voltando atrás a cada tecla errada, escrevendo a palavra certa, na linha certa, por linhas e estradas tortas.
E nesse momento me passa pela mente a possibilidade de lá longe, na lua brilhante que  me ilumina através do vidro, haver uma outra janela, olhos voltados para mim, dedos tamborilando em um computador - mesmo que sejam dedos verdes e um computador gerações e gerações à frente do meu. Olhos e indagações vindas de um universo paralelo, esperanças e palavras escritas em um futuro que ainda não me pertence.
E esse tal de futuro que nunca se torna presente?! E essa tal janela que sempre se mantêm fechada, e esses olhos que não me dizem hoje como será o amanhã. Mas ainda assim sigo, a cada curva, pois a certeza de que um belo raiar de sol virá e o futuro será presente antes da hora do almoço. Nem vou notar, ele será presente.
God, apenas 23 minutos de bateria me restam e é tanta estrada!
Nem sei quantas vezes olho para o motorista. Sempre tenho a impressão de que ele sente sono ao dirigir. Assim dirijo com ele, desviando de buracos, fazendo as curvas e mantendo meus olhos bem abertos, quem sabe assim posso ajudá-lo. Cada louco com as suas manias. Eu tenho várias, uma pena não valeram muito no mercado.
Acabo de notar que não faço idéia de onde estou. Talvez em algum lugar no meio de uma estrada que vai chegar em algum trevo perto de alguma cidade longe de casa. Senso de direção, isso não te pertence Gabriela.
Toda mulher parece ter essa peça quebrada. Penso nas antigas civilizações, na capacidade incrível de orientação através dos astros, e concluo: viveria perdida. Uma cidadã do mundo, não por opção, mas por falta de direção.
Cada vez me parece mais difícil de ....PARA...Adele tocando no rádio do ônibus. (pausa)
Sem meus fones agora, curtindo "Some one like you" com a lua ainda como minha parceira de viagem. As duas juntas parecem adicionar, simultaneamente, mais beleza e significado a cada palavra que sai do rádio, e a cada raio de luar que entra pela janela. Uma sintonia afinadíssima.
Não resisto e estou cantando. Um amigo recente e desconhecido no banco à frente de mim me acompanha. Vamos lá gente, todos juntos!
Never mind I find some one like you....uuuu.......IBAITIIIIIIIIIIII!! Sei onde estou!!!
Não pensem que consegui me localizar pelo cruzeiro do sul em relação à ursa maior em ascenção com a lua. Eu poderia mentir, passar-me por uma pirata ou desbravadora do século XXI, mas as estradas hoje são tão  bem sinalizadas e as placas refletivas resolvem o problema da escuridão, e assim, me achei novamente. Cerca de uma hora e alguns minutinhos de casa, e apenas.....
.....aaaaaa....descobri que a bateria ainda possui 33% de sua capacidade, e isso me dá 2 horas e 13 minutos!! São minutos suficientes para muitos e muitos quilometros de palavras erradas a serem digitadas neste bom e velho (expressão apenas) computador.
Algumas partes desse texto serão apagadas, inclusive esta.
Como uma boba e para rir de mim mesma, acabei de procurar um sinal de wifi, tipo, no meio do nada. A decepção de não encontrar nada só não foi maior que a constatação de consigo me superar em bobeiras em alguns momentos. É bom rir de si mesmo.
Li essa frase esta semana, em uma tarde agradável. Uma amiga, uma xícara fumegante, um bom papo e a sensação de estar em casa.
As coisas têm acontecido com tamanha rapidez e intensidade ultimamente que nem sempre tenho conseguido me encontrar e sentir cheiro de lençol limpinho e colo de mãe.
A intensidade e as mudanças vêm me fazendo companhia de tempos para cá. Com elas o medo me diz "olá" em alguns dias nebulosos.
Mas agora vejo a lua, e assim, sinto que o dia será ensolarado e frio virá apenas da brisa que tanto me agrada.
Ao olhar mais uma vez através da janela que foi tantas vezes citada neste texto, vejo meu reflexo e constato, mais uma vez, que não gosto REALMENTE das minhas bochechas.
Pensem na notícia e terão noção: "Mulher faz cirurgia de redução de bochechas e acaba com a fome na África".
O drama foi grande, e talvez até de mal gosto, mas foi apenas uma forma que encontrei de demonstrar em palavras a volumosidade desta região do meu corpo. Constato que tal volume poderia se localizar alguns centímetros para baixo, me pouparia drama e silicone.
Neste exato momento a música em meus fones parou e escuto, mesmo com eles ainda em meus ouvidos a linda e poética melodia de "Humilde residência" que toca através do rádio e impregna o ambiente ao meu redor.
Nesses momentos sinto uma vontade de pegar todos os cantores de música ruim e seus fãs de carteirinha e fazer uma sessão intensa de "música de verdade" com os mesmos. Um retiro, uma sessão de descarrego cultural. Horas a fio de música de qualidade, em todos os seus aspectos, seja em letra, melodia, produção e execução.
Não me prendo a gênero, ou nacionalidade, a questão é música que não me faça pensar em camas quebradas, no motivo que fizeram com que ela quebrasse e sentir náuseas, tudo ao mesmo tempo. "Que isso novinha?"Sou eu quem pergunto, o que é isso povinho? Que isso povinho!
A sociologia, ao estudar a sociedade e tudo relacionado à mesma, aborda um tema chamado "cultura de massa". Poucos sabem seu real significado. A ignorância garante a manutenção e a perpetuação  dos interesses daqueles que detêm o poder, ou seja, das classes superiores.
O mercado musical é um grande exemplo de cultura de massa. Se pensarmos que cantores já conhecidos e "consagrados" em nossa sociedade são os principais empresários na busca, descoberta e revelação de novos talentos, e que usam de seus shows para assim divulgar a seus fãs a mais nova dupla sertaneja do momento, usando de sua imagem,  manuseando as mentes a favor de seus interesses e carteiras, podemos ter um pequeno exemplo. O jogo de influências é muito maior e podre que tal exemplo, isso foi apenas um PLIM PLIM, para clarear as idéias nesta noite escura.
Mas o papo ficou sério. Alguns com toda certeza não irão entender e achar que sou  mais uma chata que não aceita suas raízes e renega o sertanejo. Não! Muito pelo contrário, é por gostar de sertanejo, o verdadeiro, que acho cada vez mais baixa a qualidade das músicas que caem no gosto popular. E se a mentalidade de uma população puder ser medida por sua cultura, podemos estar caminhando para uma situação perigosa.
Falando em raízes e origens penso em terra vermelha e avisto através das árvores que ainda passam correndo ao meu lado, uma pequena cidade, uma santidade, um nome em comum. Cada vez mais perto da pequena e singela Andirá. Quase posso ver suas ruas estreitas, os carros cheios de jovens andando e curtindo música alta com as piores caixas de som e os melhores sorrisos, a famosa caixa d'gua, a igreja matriz, um sobrado rosa, aquele cachorro mais feio e feliz do mundo.
Mas isso tudo ainda são pontos e focos luminosos no horizonte, assim como quase tudo escrito neste texto. Vejo, e  sonho, e acredito, e espero, pela chegada e que a bateria aguente até lá.
Também agradeço e ouço mentalmente aquela música....senhor, eu sei que é teu esse lugar...podes reinar!
Obrigada! Estou em casa, estou bem. Estou chegando. Tchau lua, oi wifi. =]



4 comentários:

  1. Ok! Na parte dos bochechas você lembrou de mim, confessa!!! Hahahahaha.

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  2. Da até pra ver seus pensamentos soltos no ar =]]

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    1. São tantos pensamentos, tanta estrada, tanto tempo e a bateria suficiente. =]]

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