quarta-feira, 10 de outubro de 2012

...nem tão diferente assim!


Se eu pudesse voltaria no tempo.
Seria senhora de engenho, usaria espartilhos e vestidos grandiosos, teria carruagens e luvas de cetim, seria mais uma sinhá, com seus chapéus espalhafatosos.
Tocaria piano à luz de velas, andaria a cavalo, seria rebelde e romântica.
Se pudesse voltar no tempo viveria as revoluções, queimaria sutiãs e pintaria no rosto as cores da pátria. Usaria chapéus Coco Channel segurando minha piteira com metros de comprimento, enquanto observava os desenhos produzidos pela fumaça do cigarro e do café forte. Perfeita combinação para uma tarde parisiense.
Teria óculos redondos, calças boca de sino e o sentimento de liberdade cravado no peito.
Cantaria em meio à multidão histérica, em diversas línguas, em todos os cantos do mundo.
Seria negra, de olhar forte e pés descalços, dançaria com todo o charme e sensualidade da raça. Seria pássaro aprisionado e cobiçado, seria ânsia por libertação.
Teria um conversível vermelho, lábios no mesmo tom, óculos emoldurando um rosto envolto por um belo lenço de seda e pela inspiração icônica de Marilyn Monroe.
Viveria as noites cariocas, sentaria sob os arcos da Lapa, seria o samba em meus ouvidos.
Cantaria canções de liberdade e revolução, viveria o exílio e a glória do retorno ao lar. Seria a voz de um povo oprimido.
Viveria em preto e branco, ouviria radionovela e teria uma coleção particular de vinis.
Namoraria no portão e seria cortejada com dança de salão e lenços capturados durante a queda proposital.
Teria vinte pares de polainas coloridas, o poster do ABBA e fantasias de um romance secreto com o Rei do rock.
Veria a saia diminuir, as calças surgirem e o voto ganhar um charme cor de rosa.
Faria viagens de navio, usaria pérolas e casacos de pele, sandálias com meia e calças de lycra. Dançaria Thriller sob o chão ofuscante das discotecas.
Seria dramática e afetada, encenaria desmaios e provocaria duelos. Me vestiria como menino e sairia à noite para cavalgar ao luar.
Seria punk, hippie e dançaria "Flash Dance".
Assistiria Charles Chaplin na estréia nos cinemas, leria os lançamentos de Carlos Drummond de Andrade e me contagiaria com os movimentos modernistas e da Tropicália.
Todas as noites ouviria meu gramofone e sonharia com o dia em que pudesse viajar no tempo e descobrir a mulher que seria anos à frente, quando o futuro fosse presente a vida fosse tão diferente.
Talvez, nem tão diferente assim!

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